Drogas: Êxtase e Dependência

DROGAS: ÊXTASE E DEPENDÊNCIA


Antes de aprofundar a questão, apresento meu posicionamento neste tema tão polêmico: creio que tudo o que se busca por meio das drogas, pode ser obtido por alternativas menos drásticas, tais como técnicas especiais de respiração, posturais, corporais e de induções vivenciais, que igualmente produzem estados alterados de consciência, sem os riscos inerentes de exposição a produtos cujos efeitos a curto e longo prazo ainda não são bem conhecidos.
Milenarmente, todas as culturas praticaram rituais religiosos que se propunham a alterar as percepções da realidade, comumente associando ritmos musicais repetitivos, em alto som, regado a bebidas de teor alcoólico - vinhos, aguardentes, fermentados - e danças, com a variante de ingestão de vegetais com poderes alucinógenos, muitas vezes restritas aos sacerdotes, em outras, compartilhado com toda a tribo. Tal somatória resulta na dissolução dos padrões rígidos da personalidade, permitindo contato direto ao conteúdo inconscientes. Os objetivos eram transcendentes, uma jornada "espiritual", "sagrada".
Modernamente, a tradição ressurgiu nos festivais "hippies", inclusive, mantendo-se a busca pela transcendência. Nos dias de hoje, temos as festas denominadas "raves",  outrossim, sem um objetivo "espiritual" no contexto. Seja como for, o que se constata é um "padrão" que faz parte da história da humanidade e, certamente, merece ser analisado mais profundamente. Em nossos consultórios, ainda que parte integrante do contexto coletivo/social, o mais comum é que a questão das drogas chegue até nós, de forma individualizada, ou seja, trazida pelo Cliente. A ausência de julgamento, seja positivo ou negativo, é exigência fundamental em nosso trabalho e o foco é a PESSOA, em seu TODO. Ou seja, o uso das drogas seria mais um dos tópicos a serem trabalhados, visto que é inseparável dos demais. Devemos, em conjunto com o Cliente, descobrir as motivações, conscientes e inconscientes, que levaram a este padrão de comportamento. Seria uma busca religiosa? Estaria abafando pensamentos, sentimentos, desejos, lembranças? Auto-estima em baixa sendo compensada via comportamentos tido como moda? Enfim, infindáveis hipóteses e cada caso é um caso, cada momento é único. Só o transcorrer da terapia pode trazer mais clareza sobre o que ocorre. E, paralelamente à análise, a inclusão de técnicas vivenciais, alternando relaxamento, hipnose, técnicas corporais de toque, respiratórias, renascimento, em suma, uma vasta gama de opções terapêuticas capazes de produzir estados alterados de consciência, sem uso de "aditivos".
 Os produtos consumidos nos dias de hoje, "refinados" quimicamente em laboratórios, certamente são muito mais danosos do que as noções milenares, que eram praticamente em estado natural. Daí que na sociedade moderna surge a alcunha de "dependente químico", aquele indivíduo que perde o controle sobre o uso da substância, associado com sintomas de abstinência e tolerância, evitadas com o uso constante e cada vez maior, privilegiando o consumo a outras coisas que antes valorizava. Dentre os colegas de profissão, existe um grupo crescente que foca seu atendimento a este tipo de situação, quase como uma "especialidade", correndo o risco de perder o enfoque holístico e, o que é ainda mais grave, inadvertidamente ferindo a legislação, com o risco de prisão, sendo irrelevantes à justiça humana se suas intenções eram nobres ou não.
O SINTE - Sindicato dos Terapeutas vem detectando um aumento de cursos para "terapeutas em dependência química", realizados em entidades religiosas e que ensinam de forma totalmente inadequada às leis brasileiras.
Quando se trata de Terapia Holística, o trabalho deve focar no atendimento ao CLIENTE e não à "dependência química" em si, pois ao definir tal estado como sendo "doença" e vincular seu trabalho a esta questão, equivale a confessar crime de exercício ilegal da medicina, já que tanto o diagnóstico, quanto o tratamento de doenças são monopólios da classe médica, segundo as leis em vigor e jurisprudência (casos julgados)...
Ou seja, ainda que não trabalhe com internações, quem definir seu trabalho desta forma, corre o sério risco de enquadrar-se em exercício ilegal de medicina. Extremamente preocupante é o fator "internação", muitas vezes propagandeada com mais um serviço prestado por estes colegas... Isto se deve porque, em várias escolas, fazem interpretações distorcidas, tentando justificar este procedimento, citando legislação, que nem sequer mais existe (como é o caso da Lei nº 6.368, que foi REVOGADA pela Lei nº 11.343, de 23/09/2006) ou da Lei nº 10.216, cujo objetivo (dentre outros...) é justamente PROTEGER o cidadão para IMPEDIR que ele seja internado involuntariamente!!! Ou seja, é exatamente o OPOSTO da interpretação que os cursos vem divulgando !!!
Nós sabemos que erram de boa fé, porém, nenhuma autoridade policial e/ou judicial aceitaria tal alegação. Conforme claramente expressa a lei, toda internação, até mesmo as voluntárias, dependem de um laudo MÉDICO PSIQUIÁTRICO; sem isso, estarão ferindo os direitos da pessoa em questão, além de cometer crimes de sequestro e cárcere privado, dentre outros possíveis enquadramentos.
Mesmo de posse do laudo médico, ainda assim, o estabelecimento precisará prestar "serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros", sem tais requisitos, jamais a instituição poderá sequer candidatar-se a esse papel.
Sabemos que muitos colegas como aprenderam nestas escolas, contudo, verdade seja dita, infelizmente tais cursos, ainda que talvez bem intencionados, ensinam de forma totalmente equivocada no que diz respeito a adequar-se às leis em vigor... Urge uma adequação radical na forma de se expressar e modo de trabalhar, pois, a continuar no formato atual, é questão de tempo para muitos colegas serem presos e processados.
Tudo isso pode ser evitado, simplesmente mantendo o foco naquilo que somos: TERAPEUTAS HOLÍSTICOS, os quais, por definição, jamais tratamos "doenças" (no caso, a dependência química...), e sim, cuidamos do indivíduo, em seu TODO, e, como tal, a questão das drogas, se trazida pelo Cliente, será mais um dos múltiplos aspectos a serem considerados e trabalhados, no transcorrer da Terapia.

Matéria publicada pelo SINTE - SINDICATO DOS TERAPEUTAS